Paraty-RJ: Prefeitura ataca moradoras/es tradicionais na tentativa de coibir comércio informal
A Prefeitura de Paraty começou um trabalho de "fiscalização do comércio irregular" na cidade que tem afetado principalmente a forma de sustento tradicional de moradoras e moradores da cidade. O Cirandeiro Seu Verino, foi impedido de forma desproporcional e sem justificativa, pela guarda municipal de tocar suas músicas tradicionais no centro histórico. Seu Verino é um símbolo de resistência da cultura paratiense e toca há décadas no centro histórico.
Segundo moradoras/es que dependem do trabalho nas ruas para seu sustento, o objetivo da prefeitura é realizar um processo de "higienização" na cidade, eliminando elementos vistos como desagradáveis na visão dos grandes comerciantes e dos poderes públicos locais, que são o trabalho informal de rua de vendedores e artistas locais, que são a população periférica e tradicional da cidade.
Enquanto guardas atacam artistas e vendedoras/es que estão na rua exibindo seus trabalhos, diversos restaurantes e comércios locais lotam as ruas e calçadas históricas com cadeiras e mesas sem fiscalização. A população tradicional e trabalhadora da cidade tem reclamado “que os objetos são mais importantes do que as vidas das pessoas que precisam trabalhar” e que “o Centro Histórico agora é só para quem tem dinheiro".
Após grande repercussão ocorrida com o Seu Verino, figura emblemática da cidade, o prefeito se desculpou pelas redes sociais, mas a população não aceitou, respondendo com comentários de desgosto. O caso do Seu Verino não é único, pois a guarda municipal tem agido da mesma forma com os indígenas locais, que também representam a resistência tradicional da cidade.
Paraty tem acelerado o seu processo de afastamento da população mais pobre e tradicional para longe dos centros, por um processo conhecido como gentrificação, seguindo os modelos de outras cidades, não só do estado mas de todo o país, que possuem um grande importância turística e/ou econômica. Exemplos disso no estado são facilmente encontrados nas grandes cidades, como o Rio de Janeiro e cidades vizinhas.
Entre as consequências do processo de gentrificação estão a perda dos costumes e suas tradições populares e o isolomento da população mais pobre em regiões cada vez mais distantes. Uma das medidas que dificultam o acesso da população mais pobre para os centros de maior circulação é através dos altos preços das passagens que dificultam a locomoção para tais locais. Recentemente, as passagens de ônibus de Paraty e cidades vizinhas passaram por um grande reajuste, algumas tarifas chegaram a aumentar 40% levando a população a se revoltar e até queimar ônibus.
O exemplo de Paraty, assim como outras cidades da região, são o de uma cidade que cresce nas bases do avanço capitalista cada vez mais predatório, onde as áreas turísticas, de maior circulação comercial e de lazer ficam restritas às pessoas mais ricas, enquanto a população local e tradicional só tem o direito de frequentar os principais centros como mão de obra assalariada para os empreendimentos comerciais e de serviços local.