11 anos em uma sentença: por que Rafael está preso?
Rafael Braga, detido em manifestação das jornadas de junho, é condenado a 11 anos de prisão por falsa acusação - segundo testemunhas - de colaboração com o tráfico de drogas. A condenação foi decretada pela 39ª Vara Criminal, nesta quinta-feira (20).
20 de junho de 2013, foi quando 1 milhão de pessoas indignadas com os aumentos das passagens tomaram as ruas do Rio de Janeiro exigindo seus direitos e contra a repressão da Polícia Militar – repressão esta que naquela noite fez uma vítima notória. Homem negro, morador de rua, extremamente pobre, Rafael Braga Vieira caminhava próximo a uma delegacia, no centro da cidade. Carregava consigo uma garrafa de desinfetante Pinho Sol que achou na rua pouco antes. Alguns policiais, cujo faziam patrulhas por todo o centro da cidade a procura de manifestantes, o chamaram e o detiveram, sob acusação de porte de explosivos – uma garrafa de plástico contendo desinfetante. Assim o pesadelo de Rafael, uma vítima do Estado e do capital, começou.
Muitas pessoas ficaram indignadas na época. Construiu-se, ao longo do tempo, uma campanha pela liberdade do rapaz, que contou com o apoio de diversos indivíduos. Após muita luta junto à família do homem, Rafael conseguiu seu regime aberto. Foi logo morar com sua mãe na Vila Cruzeiro, zona norte do Rio. Um dia, saiu de sua casa para comprar pão, e seu segundo pesadelo começou.
Segundo o próprio rapaz e uma testemunha ocular da situação, Rafael foi abordado por policiais da UPP Vila Cruzeiro – os quais não souberam nem mesmo explicar o motivo da operação que realizavam durante a audiência – e os agentes plantaram nele 0,6g de maconha, 9,8g de cocaína e um rojão. Rafael foi torturado pelos policiais e sofreu diversos tipos de abuso para que assumisse a posse dos artefatos – tudo isto foi ignorado pelo juiz durante as audiências.
Rafael permaneceu preso até o fim de seu julgamento, neste dia 20, quando o juiz o condenou a 11 anos de prisão por colaboração com o tráfico de drogas. Para Rafael, a omissão de parte da esquerda, o racismo estrutural que permeia o judiciário e a ineficiência do Estado custaram 11 anos de sua vida, 11 anos que não mais voltarão para ele.
O juiz alegou que formulou sua sentença de acordo com o testemunho dos policiais militares envolvidos, que segundo ele, estava extremamente coeso – mesmo com todas as contradições apontadas pelos advogados de defesa. Isso prova o quão falho é o judiciário, que basta o depoimento forjado de algum policial militar para que um sujeito inocente seja condenado por crimes não cometidos.
Por outro lado, o Estado mostra-se muito eficiente em cumprir os direitos civis quando lhe convém. Adriana Ancelmo, esposa de Cabral, conseguiu o que inúmeras presas não conseguiram em anos e anos de tentativas. Ela poderá cumprir a pena em casa para cuidar de seu filho. Quem foi pior para a sociedade, Adriana Ancelmo (roubou junto com Cabral de diversos serviços públicos, sendo responsável pela morte indireta – ou direta – de milhares de pessoas nas filas de hospitais públicos) ou Rafael Braga (é negro e pobre)? Então para quem serve o Estado e a justiça? Para os ricos ou para você?