Se os petroleiros boicotassem o Santander
A hierarquia privatista da Petrobras concluiu no dia 13 de junho a privatização de 90% da sua subsidiária Transportadora Associada de Gás (TAG) pra transnacional franco-belga Engie, do ramo de energia, e pro fundo canadense Caisse de Dépôt et de Placement du Québec (CDPQ), também transnacional. Mais precisamente, a composição acionária da TAG passou a ser a seguinte: 58,5% da Engie, 31,5% da CDPQ) e 10% da Petrobras. Esse fato aconteceu poucos dias após o Supremo Tribunal Federal (STF) ter decidido que as subsidiárias de empresas estatais e de economia mista podem ser vendidas sem autorização do congresso nacional e sem licitação (https://
A TAG possui cerca de 4,5 mil km de gasodutos e capacidade de movimentar 74 milhões de metros cúbicos de gás natural por dia. Além de estações de compressão de gás natural e de pontos de entrega. É uma malha de gasodutos gigantesca, que expressa a dimensão continental do Brasil.
A venda da TAG ficou em 8,6 bilhões de dólares (cerca de 33 bilhões de reais, considerando uma taxa de câmbio um pouco inferior a 4 reais por dólar). Mas quanto custou à Petrobras construir a malha de gasodutos que compõe a TAG? E quanto do montante pelo qual está sendo privatizada vai efetivamente ficar com a Petrobras? Quanto a Petrobras vai passar a gastar por ano tendo que pagar aluguel à Engie-CDPQ pra utilizar a TAG? Essas perguntas são muito importantes, ainda mais porque, com a privatização de também 90% da Nova Transportadora do Sudeste (NTS) prum consórcio liderado pelo fundo canadense Brookfield Asset Management, em 2017, a Petrobras recebeu efetivamente 2,4 bilhões de dólares (cerca de 9,15 bilhões de reais, numa taxa de câmbio de pouco menos de 4 reais por dólar) dos 5,2 bilhões de dólares totais da transação, e teve que desembolsar, em menos de seis meses, pouco mais de 1 bilhão de reais, o que equivale a cerca de 263 milhões de dólares na cotação que está sendo utilizada neste texto, em aluguel pra poder utilizar a malha de dutos da NTS, que antes era de sua propriedade (http://
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Somando os cerca de 2 mil km de malha de dutos da NTS e os cerca de 4,5 mil km da TAG, a Petrobras já privatizou, em dois anos, mais de 6,5 mil km de gasodutos, de um total de 9190 km (http://
O Santander, aliás, publicou no Globo, no dia 14 de junho (data da mais recente tentativa de greve geral, na qual houve uma participação petroleira), um anúncio de página inteira, no qual se apresenta como assessor da Petrobras na venda da TAG, e diz que a maior privatização da história da Petrobras é ótima pro Brasil. Essa propaganda soa como uma provocação e um deboche. A privatização da TAG faz parte do desmonte da Petrobras. De uma empresa integrada de energia, indo do poço ao posto (e ao poste, com as termelétricas, e ao plástico, com a petroquímica), está sendo reduzida a uma terceirizada das grandes transnacionais estrangeiras em parte da exploração e produção de petróleo e gás natural. Na contramão, portanto, de todas as grandes empresas de energia do mundo, que buscam cada vez mais integração das suas atividades. A desintegração da Petrobras a enfraquece, num ambiente de negócios dominado por corporações gigantescas e muito poderosas, donas de muitas peças no xadrez geopolítico. A alienação da TAG faz parte do aprofundamento aceleradíssimo da (re)colonização
O Santander é malandro. Mesmo dando um violentíssimo tapa na cara do trabalhador petroleiro e do povo trabalhador brasileiro de conjunto, utiliza sua comunicação pra parecer que está nos ajudando. Manipula pra parecer que tecnicamente (e gargalha de quase engasgar dos que acreditam que a técnica é neutra) faz o melhor pra Petrobras e pro Brasil, se mostrando ao mesmo tempo um mestre dos números e dos gráficos (evidentemente neutros - kkk) e um bem-humorado e (in)formal assessor do povão. O anúncio de página inteira em que comemora a privatização da TAG e a campanha publicitária do seu micro-crédito com o garoto-propagan
Há alguns anos, a Transpetro, subsidiária da Petrobras de transporte (logística), passou a depositar as remunerações dos seus empregados no banco Santander. Como resposta ao sarcasmo dessa instituição financeira, que, na prática, está ajudando a preparar o caminho pra demissões em massa na própria Transpetro e no conjunto do Sistema Petrobras, com repercussão em muitas famílias, tanto petroleiras como outras, os petroleiros que têm conta nesse banco e discordam do processo privatista poderiam retirar seu dinheiro de lá e evidenciar o motivo, tanto junto ao banco quanto publicamente. Seria um gesto, entre outros, na luta contra a privatização e o esfacelamento do nosso futuro, como pessoas e, principalmente,