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Quero Fazer Revolução… Por Onde Começo?

Junho 10, 2020 - 12:30
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Um conjunto de dicas para quem tem interesse em somar na militância anarquista.

A Militância

Primeiro de tudo é importante termos em mente o que é a militância. Comumente se confundem práticas individuais e expressões de opiniões com militância, e é necessário termos claro que, fazer um tweet ou um texto no Facebook não é, necessariamente, militância.

A militância é a prática política de uma pessoa. É a fala em uma assembleia, é a construção de uma luta local, é a participação em manifestações ou ações de rua, é somar em um pré-vestibular comunitário, é ajudar a gerir um centro cultural social, é se inserir em movimentos sociais… Seria difícil listar todas as práticas políticas que podem ser enquadradas como militância, mas expressar opinião pessoal nas redes sociais dificilmente será uma delas.

Esse texto visa ajudar pessoas que não tem contato direto com meios de construção de luta mas tem interesse em somar nesses espaços. Em outras palavras, é um texto para quem quer militar mas não sabe como começar.
 

Local de Moradia

Provavelmente existem grupos e iniciativas de construção de poder popular próximo à sua região. Alguns exemplos desse tipo de organização são os coletivos que atuam nas favelas, como o Maré Vive, o Fala Acari, e o Conexão Favela e Arte, que atua no complexo do Viradouro, em Niterói. Esses grupos constroem luta pela base, mobilizando a comunidade que estão inseridos. Recentemente temos visto muitos desses grupos protagonizando a luta pelo fim das operações policiais.

Somar na construção destes espaços comunitários, que muitas vezes precisam de apoio para tocar pré-vestibulares, centros culturais e demais ações sociais de base, é uma ótima forma de se inserir na luta.

 

Local de Estudo/Trabalho

Outra ótima forma de iniciar a participação política é a partir de organizações ou movimentos que atuem no seu local de estudo ou de trabalho. No caso de estudantes universitários, o centro ou diretório acadêmico é uma forma de atuar politicamente. O diretório representa os estudantes de determinado curso e, quando bem utilizado, pode levar a avanços sociais para estes estudantes, como por exemplo a recente batalha que vem sendo travada por diversos DA’s contra a implementação do ensino remoto.

No caso de um diretório acadêmico, muitas vezes a participação acaba sendo limitada por se tratar de uma gestão de chapa, que muitas vezes não é aberta ou minimamente participativa. Nesses casos, uma opção é se organizar com estudantes críticos a esse modelo de gestão e tensionar pela abertura da gestão, ou por uma autogestão.

Já se você for um ou uma secundarista, é possível que na sua escola haja um grêmio. Uma boa forma de começar a atuar politicamente é juntando-se ao grêmio e buscando torná-lo cada vez mais acolhedor aos demais estudantes e, de preferência, horizontal e combativo. Caso não haja um grêmio, a atuação política pode se voltar para a construção do mesmo, com outros estudantes que tenham o mesmo interesse.

Como estou falando de Movimento Estudantil por enquanto, é importante ressaltar que nem sempre esses espaços serão majoritariamente anarquistas ou sequer independentes. Precisamos ter em mente que movimentos sociais são disputáveis, e compôr um centro acadêmico com outras forças políticas, sempre tensionando pela horizontalidade, pela combatividade e pela autonomia é uma forma extremamente útil de atuar politicamente sendo anarquista. Hoje em dia são poucos os espaços que são de fato horizontais ou autogestionados, lutar por isso é uma forma de avançarmos.

Se você trabalha, provavelmente tem um sindicato. Assim como diretórios acadêmicos e demais instâncias do Movimento Estudantil, os sindicatos também costumam ter hegemonia de alguma força política, geralmente ligada a partidos políticos. Mas, assim como o Movimento Estudantil, eles também são disputáveis. Inserir-se no seu sindicato e pressionar, junto com a base, por mais combatividade e autonomia é uma forma eficaz de atuar politicamente também.

 

Movimentos Sociais

Movimentos sociais são espaços de construção coletiva de luta por uma pauta social específica. Um exemplo é o MST, que luta por moradia e por reforma agrária. Outro exemplo é o Movimento Passe Livre, que luta por transporte gratuito e de qualidade.

Uma forma de começar a atuar politicamente é somar em movimentos sociais. Dificilmente não existe um movimento social na sua região que esteja precisando de ajuda. Iniciativas como um pré-vestibular comunitário, ou um centro cultural social, ou uma assembleia popular, são espaços que geralmente estão precisando de apoio, e atuar nestes locais é importantíssimo.

Se você tem interesse em começar a atuar politicamente, uma boa forma é procurar alguns desses espaços pela sua região e se colocar à disposição para ajudar na construção do espaço.

A luta não é só manifestação. Talvez seja o que mais chama atenção para a mídia e nas redes sociais, mas existe muita luta sendo construída nas comunidades, em ocupações, nos quilombos… A luta ocorre diariamente e, sem esse trabalho de formiga, nenhuma grande manifestação seria possível.

É justamente o trabalho social que é feito cotidianamente que garante o avanço da luta, portanto até mais importante que participar de uma manifestação é estar inserido nestes espaços e somando nas demandas locais.

 

Organização Política

Compor uma organização política não é muito uma dica para pessoas que estão pensando como começar a atuar politicamente e ainda não tem contato com movimentos de massa, porém eventualmente ocorre o contato com esse modelo de organização, portanto é importante entender o que é, como funciona e quais as diferenças para os movimentos sociais e sindicatos.

Diferente dos movimentos sociais, que se unem em torno de uma pauta específica de interesse coletivo, as organizações políticas se unem em torno de afinidade ideológica. Seja uma organização anarquista, comunista, ou um partido político. Os membros de uma mesma organização política tem concordância teórica e atuam para difundir esta teoria.

Existem muitas diferenças claras entre um partido político e uma organização anarquista, porém isso seria assunto para outro texto. Aqui vou falar apenas das organizações anarquistas.

Imagina o seguinte: você decidiu se inserir no seu diretório acadêmico, porém ele tem uma presença hegemônica de setores mais recuados da esquerda, como grupos ligados ao PT. Então você, sozinho ou sozinha, decide disputar o espaço e se contrapor a essa forma burocrática e pelega de fazer política. Sozinha, você não tem força o bastante para enfrentar a hegemonia. Porém, você descobre que há outros anarquistas no espaço, e vocês resolvem se organizar para, juntos, enfrentarem a hegemonia pelega e propor uma forma de atuação mais combativa.

Seria mais ou menos essa a função de uma organização anarquista. Ela, sozinha, não faz uma revolução. A função da organização política é impulsionar os movimentos sociais para a combatividade, a autonomia e a horizontalidade para que, a partir do acúmulo das lutas destes movimentos, a revolução seja construída, a longo prazo.

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