Apresentação da plataforma Autonomia e Organização: Quem tem medo da Autonomia?
“Quando, em uma polêmica, quer-se parecer ter razão, é bem cômodo e, portanto, muito comum atribuir certos erros grosseiros ao adversário para, em seguida, refutá-los triunfalmente. “ (Malatesta)
A citação de Malatesta ilustra bem o que fazem aqueles que, atualmente, tentam dar cunho pejorativo ao termo “Autonomia”. Dizem eles que é uma estratégia ineficiente à luta das/dos trabalhadoras/es por ser individualista e isolacionista. Entretanto, não pode ser mais incorreta essa definição. Autonomia é, ao contrário, essencial à luta coletiva e à livre associação de todas/os aquelas/es que desejam combater as opressões que nos afligem enquanto classe. Assim pensamos nós, um grupo de militantes, unidos pelo desejo de ampliar a liberdade em nossas organizações de base (sindicatos, coletivos, movimento sociais em geral).
Uma organização política, em seu mais amplo sentido, que tenha como princípios a não personalização das diretrizes, a estrutura horizontal de tomada de decisões, a solidariedade indistinta aos que lutam não pode se isolar das demais entidades, mas não pode ser também mera “correia de transmissão” de juízos e estratégias gestadas de fora para dentro. Quando se incorre nessa articulação verticalizada se está admitindo a existência de instâncias privilegiadas – as famosas vanguardas – às quais se reserva o monopólio da análise conjuntural e da determinação das táticas de enfrentamento das condições adversas.
Outro sintoma desse tipo de arranjo político é o fortalecimento da burocracia, manifesta tanto no peleguismo de setores dos movimentos sociais, fortemente arraigados à dependência da estrutura estatal, quanto no sectarismo e aparelhamento de setores autointitulados classistas que se veem como “líderes iluminados”. A burocracia, nessas duas vertentes, tem se esmerado em tentar desqualificar os apelos cada vez mais forte por Autonomia. Eles temem, provavelmente, que as/os trabalhoras/es se organizem e se autorreconheçam como sujeitos de sua própria organização como classe, ouvindo-se mutuamente, mas não aceitando a subjugação de seus interesses ao jogo político de estruturas que, embora importantes e salutares à luta, não podem por si só responder pela classe inteira ou se sobrepor a ela.
Em um esforço coletivo de militantes que julgam essencial combater a burocracia, seja ela sindical, social ou de qualquer outra natureza, trazemos esta plataforma para veicular contribuições com os acúmulos de discussões teóricas e práticas de diferentes grupos cuja atuação esteja no espectro dos dois eixos basilares que reivinidicamos: Autonomia e Organização.
A Autonomia entendida como a mais ampla liberdade a fim de tornar realidade a máxima de que “a emancipação dos trabalhadores deve ser obra dos próprios trabalhadores”. Organização é, portanto, imprescindível ao alcance dessa liberdade. “Quem não se organiza é organizado por alguém”, já dizem os muros das cidades.
“Eis por que a nova política consiste, para nós, em dar ao indivíduo e ao grupo todo o seu desenvolvimento, toda a sua autonomia; em assegurar os interesses gerais pela federação e pela solidariedade universais dos grupos livres.” (Benoît Malon – “A Internacional”)
Para potencializar e avançarmos em propostas antisistêmicas, que construam alternativas anticapitalistas, a partir da ideia que conjugue autonomia e organização, acreditamos que o princípio de federalismo seja fundamental como método e concepção de movimento social de forma geral. Acima de tudo, o federalismo propõe certa soberania aos grupos ou sujeitos para atuarem nas demandas locais de trabalho, atuação militante, construção de trabalho de base, pressupondo que demandas imediatas requerem respostas em tempo hábil. Desse modo, reforçar o caráter federalista é consequentemente avançar ainda mais na luta que visa uma organização autônoma, sem perder de vista a coletividade.
Fazemos um chamado a todas/os aquelas/es que desejam a “nova politica” a se juntarem nesse esforço de formação e difusão de estratégias de luta. Não trazemos respostas simples, mas propomos um pensar coletivo. Mais do que expor nossas experiências, com acertos e erros, nos propomos sinalizar que não estamos sós nesse caminho de lutar sem abrir mão da liberdade, da solidariedade e da crença em nossa capacidade de nos autogerir – sem pátria, nem patrão.
Autonomia, organização e federalismo são três facetas de uma mesma moeda que quando jogadas juntas para o alto, ao caírem, formam uma base comum que, de forma horizontal, sem lideranças, se estrutura de tal forma que seria desnecessária uma ou mais forças centralizadoras, verticais, ditando as regras e construindo “valores’ que, quando aplicadas em associações, ou sindicatos, recaem na prática do fisiologismo, da defesa de interesses pessoais, que em nada contribuem para a ação coletiva em prol dos urgentes interesses da classe trabalhadora.
Nas esferas microssociais encontramos as demandas que podem e devem ser praticadas pela comunidade, quando de interesse mútuo, em consenso. E esta prática, partindo de uma formulação comum, encontrada na base da sociedade (que testemunhamos reproduzidas nas associações, escolas, empresas, sindicatos, etc.), urge de ser praticada cotidianamente, como elemento de ação direta e trabalho necessário de base. Esta ação, colocando em diálogo diversos setores da classe trabalhadora, em conjunto, podem formular políticas próprias que, em diálogo, complementam-se. Daí temos o princípio da auto-organização coletiva e que seja autônoma, no sentindo de não estar presa aos interesses burgueses embricados em um jogo de negociações humilhantes com o grande capital.
Como diria Kropotkin na sua autobiografia Em torno da vida,
“(…) A associação Internacional dos Trabalhadores inaugura um novo método para resolver os problemas de sociologia básica, conclamando os próprios operários a tomar parte na solução”, continuando: “Não tínhamos a pretensão de fazer emanar de nossas opiniões teóricas uma ideia de república, uma sociedade ‘tal como deveria ser’, mas convidamos os operários a buscar as causas dos males atuais e a considerar suas discussões e seus congressos os lados práticos de uma organização social melhor do que aquela que temos atualmente” (BERTHIER, 2016, pp. 42 – 43).
Isto indicando que teríamos uma organização local, que se estruturando a partir da base, de forma autogestionada, autônoma e coletiva, apontando suas demandas localmente, posteriormente, em congressos federativos e finalmente submetendo as mesmas, após amplamente debatida e estudada, ao espaço de um congresso posterior nacional ou internacional. E assim se formou a A.I.T., e assim consideramos ideal a ação na luta pela emancipação da classe trabalhadora. Independente de lideranças sindicais e de suas associações interessadas no jogo imundo desta democracia representativa burguesa.
Esta plataforma pode e deve se inserir dentro de uma luta nacional por organizações de base, autônomas e ao mesmo tempo coletivas, reunindo dados, informações, ações, praticadas de norte a sul do brasil, leste a oeste do mundo! A luta é internacional a a necessidade de organização da classe trabalhadora é de extrema importância na nossa homérica luta contra o modelo organizativo ditado através da força e da baranha pelo grande capital!
Por AUTONOMIA & ORGANIZAÇÃO, redigimos este protesto, esta pequena carta, que desejamos atingir a todos que lutem coletivamente e de forma horizontal em todos os cantos do Brasil e do mundo! A luta é internacional!
Acesse a plataforma autonomia e organização pelo link: https://midiaindependente.org/autonomiaeorganizacao
There are 2 Comments
A plataforma poderia
A plataforma poderia apresentar alguma espécie de espaço para reunir as pessoas interessadas na discussão e construção. Segurança e privacidade, claro, devem ser levadas em conta ao escolher um canal de comunicação. Há de se levar em conta que uma proposta política 'horizontalista' incomoda não apenas a classe econômica dominante, como também setores tradicionais da esquerda. Ficarei no arguardo por mais informações e se requerido, posso enviar sugestões para um canal de comunicação inicial.
O texto propõe uma visão
O texto propõe uma visão filosófica/política como se isso fosse deslocado da realidade. Como se fosse uma questão de encontrar o "KillerApp" filosófico que vai resolver tudo. A sociedade se organiza conforme está organizada a produção. É só estudar a história para ver isso. Se quer mudar a sociedade primeiro é necessário organizar a produção de forma diferente. Porque no fim é isso que importa. Sempre foi assim. A liberdade pode ser vivida aqui no mundo real, basta organizar a produção para permitir isso. Comece a cultivar a terra, construa uma arvore tecnológica, respeite seus companheiros. Até um capial semi-analfabeto consegue ter mais liberdade que um acadêmico-filósofo da cidade grande no momento que ele não tem patrão e está mais preocupado com o regime de chuvas que puxar o saco do superior para ter alguma vantagem. A escravidão do capitalismo parece confortável, mas ainda é escravidão. No futuro podemos ter a chance de colonizar outros mundos, outros planetas, etc. E essas colônias podem usufruir de uma liberdade nunca antes vivida nesse planeta escravizado. Mas para treinar as gerações futuras a construir a liberdade precisamos começar a colonizar nosso próprio planeta, estabelecer uma tradição colonial de autonomia, eliminando a dependência ao máximo do capitalismo. Por favor, não me façam ter que criar uma religião só para convencer as pessoas a viver melhor com liberdade e autonomia. Por favor, não é difícil de entender.
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